quinta-feira, 1 de abril de 2010

Moinhos, o mundo e uma criança


Que decepção!: acordar de manhã e se dar conta de que toda maravilha vivida não passou de um sonho. Acordar e dar com a realidade debochando de você. Dizendo: “Besta. Acreditou nas falácias do seu subconsciente desesperado.” Agora, tudo é secura diante do nada que não chegou a existir. E se tinha tamanho tesouro nas mãos e agora não mais.

Não para mim! Acostumado às vias do devaneio, escapo! Vou! Fugindo pelas vielas do pensamento, Sobrinho de Mago que sou, atravesso Guarda-roupa, dou com Feiticeira, abraço Leão. Ando a Cavalo, brinco com seu Menino. Vislumbro um Príncipe, viajo com ele em seu navio, peregrinação na Alvorada. Descanso numa Cadeira de Prata, onde me preparo para encarar a Última Batalha. E a realidade quer me levar o brilho dos olhos, quer extinguir a última chama acesa em mim. O Nada levanta-se para devorar a minha Imperatriz Menina!

E me dói, a certeza de que cresço. Cresço e não posso mais alimentar-me. Alimentar os anseios de fuga, de heroísmos, de amores... Cresço e sinto arder meus pés. Eles não aguentam o peso de andar. E quando eu quase penso que sonhar não pode ser mais a minha praia, me vem Cartola, um paternal Cartola, com uma voz suave, carinhosa, me dizer que ainda é cedo, que mal comecei a conhecer a vida e que, mesmo resolvido, minha vida ficaria pelas esquinas. Ele me chama mais perto e me diz pra ouvir bem: “o mundo é um moinho”. Um moinho que tritura. Um moinho é capaz de levar um Quixote à beira do abismo. Retorno à querida Cecília, “não sei se saio correndo, ou se fico tranquilo...”

Cartola pai me pede para ficar, protegido pelo manto das ilusões, dos devaneios; a Cecília criança, se inquieta indecisa. Dom Quixote me mostra a morte que há em sair em busca de viver devaneios. Não sei se cresço ou se me escondo. Não sei vou ou se me resguardo. Não sei se faço sexo ou se leio Jane Austen. Talvez, ainda seja cedo, pai. Talvez seja já tarde.

Foto: Minha irmã, um pangaré de mentirinha e eu. No tempo que se tirava fotografias em praças nos bairros.

Um comentário:

a_rosa disse...

é o ser pisciano! mas não se reduz ao signo, fato. Há sonhos que são maiores que nós mesmos, o que tememos? não concretizá-los ou vivê-los? às vezes temo viver meus próprios sonhos, covarde que sou.

lindo!