quarta-feira, 6 de abril de 2011

Teclas de um rosário doido

[DOÍDO?]

         Sento-me em minha cadeira como a carola que se ajoelha em altar de igreja. Ambos, preparamos nossos dedos para seguirmos em nossas preces. Ela, por meio das miçangas de seu rosário e eu a discorrer meus dedos por um teclado, que agora novo e duro. Ambos, eu e ela, dizemos coisas que vagam pelo ar com a promessa de um  ouvinte insólito.  

         Dizemos tanto e tanto, crendo que nosso tanto dizer pode surtir algum efeito. Ela em suas orações e eu em meus posts. Os dedos a contar Ave Marias,  os dedos a externar minhas heresias. Muitíssimo pertos um do outro: eu dela e ela de mim. Somos quase irmãos num fazer igual: a iluminar nossa alma da maneira que aprendemos a fazer.
 
Ela fala com um deus, e não pode ter certeza de que é ouvida; eu falo para milhões de pessoas, sem a mínima certeza de que alguém está  sabendo do que falei. Mas, tanto ela quanto eu, precisamos fazer assim, dessa forma. Achando, então, a redenção que cabe à nossa existência. Ninguém ouve o que dizemos, mas é importante que tenhamos dito e que tenhamos em mente a possibilidade de haver um ouvinte, quiçá interlocutor. Um discurso nem sempre precisa de todas as partes que lhe são inerentes. Dizemos e já estamos livres do fardo que nos possuía. Ela deposita sua esperança em Deus, de quem espera intervenção; eu deposito meus gracejos em possíveis leitores, de quem espero concordância e comentário inteligentes.  
A internet bem pode parecer um quarto de manicômio ou um altar de igreja, onde uns varridos debatem suas dores e dizem coisas sem sentido, e sem quem ouça, esperando a glória, a redenção, a concretização da loucura.