quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Lá se vai um outro Dom


De Moinhos de Ventos se fazem dragões. Do nada se faz o tudo e outra vez. Do tudo fez-se o nada e mais um pouco. Um além e alguma despedida. Café que dói no peito, tão amargo. Voz calada e seca já não diz. Preso na garganta há um bolo. Um drama; uma esperança codorniz.

Querendo ver moinho tão gigante. Os passos do Quixote que se quis, bem mais, bem muito mais e já não diz. Calado agora vê suas palavras pregadas num papel de tinta e giz. A força que continha em ser quem era, ruiu ao som do rock em tarde griz.

Austero e poderoso decidiu. A hora de a irmã vir dar as mãos. Ao além, suas aventuras, o quanto mais. De palavras que o espelho repetiu. Avante mais avante e além, o céu é o limete que se vê. Mas, eis portas abertas e avante. O céu que já rompido recebeu; Quixote com sua valsa dos moinhos, dragões que ninguém mais reconheceu. Feliz, Quixote. Tanto saltitante. Saltou em sua valsa certeira. Adeus disse ao mundo e às amantes e àquela a quem, um tanto, compreendeu.

Moeda de dois lados, do Quixote. Teatro. Drama. Show. E carmesim. Os braços feito asas tão voante, o rápido e curto voô codorniz. Romantismo e Quixote foi avante. Às letras das palavras que já leu. Gigantes levantaram-se entre sombras. Moinhos subjugam o herói.

Quixote disse aloha, lá vou eu. Jazente, já não mais me espere ver. Talvez lá no além, outra morada. Naquela que tanto desafiei.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ontem


Eu chorava quando me machucava. Ontem eu fechava os olhos em frente a um cemitério. Ontem eu sabia correr sem me achar ridículo. Ontem nada era ridículo. Ontem eu arrebentava meus chinelos. Suava sem nenhum preconceito. Fazia xixi na cama. Ontem eu queria ser o “primeiro a escolher o que ‘cê quer da vida!”. Ontem eu ainda sabia pedir desculpas. Eu não conseguia acompanhar as legendas nos filmes. Ontem eu era mais feliz. Eu não sabia que veria tanto. E também não sabia que mesmo vendo tanto, não teria visto muito. Ontem eu tinha medo mortal de morrer. Ontem jogar Super Mario com o Yannes era coisa muito importante. Ontem falar na língua do “K” com a Tatyany era coisa quase religiosa. Ontem Deus me era uma certeza. Ontem eu tinha mais juízo. Ontem era só a Sandy. Ontem não será mais hoje. Talvez, aos vinte, se comece a sentir o peso do Romantismo: muito longe da aurora e já bem perto do se pôr... Ao Yannes e à Taty eu digo um “oi” desconjuntado, e é tudo o que dá para fazer. Sinto a nostalgia, a tal da saudade inexplicável daquilo que ainda não vi e daquilo que os anos não trazem mais. Ontem ficou para traz: como tudo foi ficando, fica ainda e ficará logo, logo e já está ficando de novo.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Jardim da Estação


João Superis regava o suntuoso jardim de liláses que dava importância à magnífica faixada da sua casa no Jardins. Ele podia atrazar-se para o trabalho, não dar atenção à mulher ou negligenciar o desenvolvimento dos filhos, mas nunca cogitava a ideia de deixar de lado o suntoso jardim de liláses que dava importância à magnífica faixada da sua casa no Jardins. Afinal, a chegada da estação das flores anunciava também a chegada da inspeção dos jurados da Revista Jardins e Faixadas, que julgariam e elegeriam, entre a alta roda paulistana, o Jardim da Estação; os nervos de João vinham sempre à flor da mais alta pele, pois um dos jardins favoritos ao título era o suntoso jardim de liláses que dava importância à magnífica faixada da sua casa no Jardins.

O jardim de Superis liderava as pesquisas de ibope em todos os jornais do país, ora essa, o concurso atraia os olhos de todos os brasileiros, do mais rico ao mais pobre, e a maioria dos expectadores estava torcendo para o suntoso jardim de liláses que dava importância à magnífica faixada da sua casa no Jardins. O ego do dedicado jardineiro amador se inflava e se regozijava com as notícias e a possibilidade cada vez mais possível de ganhar o prêmio com o suntoso jardim de liláses que dava importância à magnífica faixada da sua casa no Jardins. Contudo, as liláceas, muito bem cuidadas com a dedicação de alguém que as amava, tiveram de deixar de se inflar tanto assim, pois ao suntoso jardim de liláses, que dava importância à magnífica faixada da casa no Jardins, veio se achar um rival de peso. Era um jardim inusitado, descuidado de quase tão abandonado: um jardim de daninhas, magnânimas daninhas que davam um aspecto rústico e deixado de lado a um imponente casarão desabitado ainda no Jardins.

Os jurados estavam vindo de uma cercânica logo perto e se depararam com aquela magnitude do acaso, da mãe natura e dos excrementos de incetos e só, ficaram abismados ao notarem a beleza de um jardim de daninhas, magnânimas daninhas que davam um aspecto rústico e deixado de lado a um imponente casarão desabitado ainda no Jardins. Os jornais ávidos por darem o que falar, comentaram em letras grandes de primeira página: “O Jardim da Estação”. E no subtítulo eles escreveram o seguinte: “Surpresa! Um jardim de daninhas, magnânimas daninhas que davam um aspecto rústico e deixado de lado a um imponente casarão desabitado ainda no Jardins começa a mudar a opinião pública a respeito do suntoso jardim de liláses, que dava importância à magnífica faixada da casa no Jardins.”

João Superis extranhou tal notícia e até foi grosseiro com sua assintente naquela manhã, a assiste ficou perplexa, em muito tempo não era tão furiosamente destratada pelo patrão, que esbanjara bom humor desde que se tomava como campeão o suntoso jardim de liláses, que dava importância à magnífica faixada da sua casa no Jardins. As pessoas todas, agora, na verdade, estavam encantadas com a naturalidade com a qual havia se dado àquela maravilha do mundo, em forma de erva daninha. As pessoas estavam muito interessadas numa história de ver o belo nas coisas que geralmente se custuma a tomar por feio. Quebrar com conceitos envelhecidos e coisas assim... Afinal ninguém pode decidir o que é belo ou que não é.

João não conseguia suportar que aquela brenha fúfia fosse capaz de destruir tudo pelo qual ele batalhou. Não podia vir assim, do nada e sem dono, para dar fim ao sonho de toda uma vida: cultivar e encher os olhos do mundo inteiro com o suntoso jardim de liláses, que dava importância à magnífica faixada da casa no Jardins. Porém parecia vir sim, assim, do nada e sem dono, bem mesmo, o jardim de daninhas, magnânimas daninhas que davam um aspecto rústico e deixado de lado a um imponente casarão desabitado ainda no Jardins.

O resultado da eleição foi bem mantido em segredo, afinal, com todos os veículos de mídia se preocupando em saber qual seria o resultado afim de publicar primeiro, era de se esperar que a “Jardins e Faixadas” também quisesse ser o primeiro meio a noticiar o vencedor. E a capa da edição do último mês da primavara vinha estampada com um jardim de daninhas, magnânimas daninhas que davam um aspecto rústico e deixado de lado a um imponente casarão desabitado ainda no Jardins. E na manchete se lia em amarelo vivo: “O que é, realmente, o estética mente o belo?”.

Mas Nietzsche chamou Kant de idiota!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Eu


Este sou eu. E no meio da minha bagunça eu não quero que ninguém me defina. Eu não dou essa autoridade. Dou igaul autoridade aos que possam querer me dizer quem eu sou. Pois eu sei muito bem quem eu sou: eu sou exatamente aquilo que, no meio do infito, no meio do caos, da bagunça do mundo, eu posso entender como meu.

Apartir do que é meu eu posso ver o que sou eu. Aquilo que gosto, que amo, adoro, é o que pode deixar a minha marca no mundo. Meus prazeres são o que vai dizer que no fundo, desse baú velho de mil coisas que posso ser, há algo que só eu sou. Mesmo sabendo que para ser eu, sou obrigado a depender de você.

Nesse turbilhão de coisas: meu relógio, meus incensos, Scotland Yard, fone de ouvido, Jogo da Vida, Uno, o curativo transparente, minhas moedas, minhas cartas para quem amo, um pregador, minha Compactor 07, as músicas amadas, minha velha camisa do Flamengo, eu me vejo. Como se olhasse para um espelho e, num espelho, não vejo nada além de mim.

É bem verdade que muitos têm todas essas coisas, mas um vascaíno tem tudo, menos a camisa do Flamengo. Ou alguém que não tenha um relógio, um incenso. Tudo, no meio de quem sou é muito banal e comum a toda a massa, mas a combinação é minha e me faz mim a cada vez que me combino, que escolho as minhas escolhas. Mesmo que sejam escolhas comuns, não se farão como se fizeram antes por outras pessoas e ainda vale a máxima de Heráclito.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A valsa dos lobos uivantes


E de dançar se vai a vida tão valsante. A grande valsa que é dos lobos mais uivantes. Que já dos gregos, dos romanos, ultrajantes. Que é do Àquiles tão bem como do seu Pátroclo. E cai a noite em seu luar mais desvairado, que invade tudo com seu dom tão prateado, e ninguém pode já dizer quem era antes, identidade se perdeu já não se sabe. Não tem olhar, não tem a voz, não tem mistério. Só tem o passo e não se pisar nos pés.

Escorre a valsa que dos lobos já uivantes, buscando o néctar que há por entre troncos. E se dançar que se dançando tão dançantes a não errar um só mandato da cartilha. Se vai pra lá, se vem pra cá e a noite rompe, não mais mistérios, não mais segredos que o dia esconde.

E de joelhos, ajoelhados, tão cristão, abrindo a boca pra pedir que, do céu, mande, o brando gozo que alegrará, uivantes, os lobos pobres tão polidos a dançar. A boca aberta esperando o deus que venha e lhe aprazer e lhe entregar a recompensa, o manar que vem do alto e que não falta, aquele mesmo que não se deve armazenar. E sorri, feliz que sorridente. Não mais espera, agora sim já pode ver. O deus que veio, que já não mais a vir, agora veio e se faz vez de engolir. O lobo uivante faz calar o seu uivado. Se põe sossego e não mais atormentado. E já não dança, antes vai-se bem do baile. Já valsou, o deus já veio e aleluia.

A valsa é boa, é gostosa e chama mais. Ela vicia e tão logo quer de novo. A sede aumenta e só sabe em demasia. Escraviza o lobo que não sabe dizer não. Ele não quer, mas uivar é natureza. E não se prende a natureza, não. Essa não nasceu pra se dobrar ao que, de dia, dizem, mas sim pra deixar que a noite mostre o que é seu. E tão sedentos, pois a sede não a acaba, os lobos voltam a uivar bem pela areia, o mar cantando e as estrelas segredantes, não contam ao sol o que, à noite, vem a ver.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Há vida após a morte

Não é um crime se questionar nesta direção. Nós que também não sabemos nada do mar, não saberíamos nada até sobre nós mesmos. O que viria no então desconhecido? Posso atestar: há vida após a morte. Já estive lá e estou eu tentando dar meus primeiros passos no depois de morrer. Tentando renascer e nem cinzas me sobraram. Vou do nada. Ressurgir do nada. O que não me parece ser um ressurgir, mais se mostra como um surgir outra vez como se nunca tivesse surgido antes. Não!, há cinzas das quais surgir novamente. Ficou uns resquícios que me possam valer de alguma coisa.

Minha morte não foi a tradicional. Acho que não estaria mais aqui se tivesse sido. Acontece, na verdade, que o meu filho (leia-se, PC), bateu as botas e não consegui recuperar exatamente a pasta na qual eu guardava o meu modesto legado. Morri!
Mas morrer neste caso se fez algo bom. Morrer representa um fim para um novo começo, para algo novo que vem além daquele grande muro que o menino que caminha, caminhando chega num muro... Futuro. Talvez, mesmo, tenha sido melhor. Para que não mais eu me fiasse nas coisas antigas e daí pra frente produzir o meu novo, que vai se indo nas minhas veias até as pontas de meus dedos. Morrer não representa o fim. Mas exatamente o oposto. Iniciar. Um começo tão bom e tão avançado que já estou no Windows 7. Só de começo, o meu novo começo já se fez apoteótico. Nem há o que chorar. Remoo alguns textos queridos que se foram para o além que não sei como encontrar. Talvez eu contrate a Polícia Federal para achar. Em nome do que eu considero minha arte, posso até dizer que me envolvi com pornografia infantil, só para a Anjo da Guarda vir xeretar no meu pc qualquer arquivo. Dizem que eles encontram mesmo depois do shift-del.
Acho que não. Vou curtir a vida, como a vida deve ser após a morte. Nesta minha reencarnação, não me cabe saber o que vivi em vidas outras. Basta que eu siga sendo o novo que o destino, acaso, ou o que for, tenha me imputado. Lá vou eu.
P.s.: Pra provar a o renascimento: uma pintura minha (Eu Fawkes), pintado no Paint do Windows 7.

domingo, 26 de julho de 2009

A feira nossa de cada dia e secreta


“Quanto vale uma imagem.” Alguém gritou, pois queria vender uma. Quanto será que pagariam pela imagem que fizera questão de lustrar durante todo aquele tempo? Sem dúvida tinham de dar um alto preço, afinal foram anos de polimento, polidez, cuidados e construção. A quem interessar possa, vende-se uma imagem. Vende-se uma imagem que é feita de muita coisa e com muito cuidado, uma imagem projetada, sobre a qual muito pouco se conhece. Uma imagem bonita, claro, claro! Não seria diferente. Ela estampa as meninas protegidas, que não querem ver muito. Alguém pensa que com elas é capaz de estampar as protegidas de outrem, mas não é. E são muitos produtos anunciados aos berros dos feirantes nervosos, necessitados de vender suas primícias, ou mesmo o que tinha sobrado que fosse vendível. Era de vender e só. De vender se vive a vida e se ganha ela também.

O que vende mui cedo se levanta, ou tarde tarde vai dormir. Há esmero. Há trabalho. Moldar não é fácil. Produzir não é fácil. Elas andam pela orla, pelo silêncio, pela escuridão que seja, e seus saltos fazendo barulho, anunciando a mercadoria que ali, se vendia. Nós. Mulheres vendíveis. Nós outra vez. Nesse circo qual feira, a lona está lá, barraca está lá, somos nós atração, estamos lá.


Quanto há de valer a imagem? Quanto pagariam por ela. Não vale a pena saber. Não vale mesmo. A imagem não será comprada, ela será vendida em esquema de troca, cada um casa a sua e leva outras neste espetáculo que tão incansável e chiclete velho do outro dia.


Eita, aurora nova repetida e alguém volta à feira, monta seu circo e expõe o que tem. Vende barato, rebola e masca chiclete e fede a perfume de mau gosto e vagabundo. E as sobrancelhas são finas de quase não ter. Tentando vender, vender a imagem e tudo o quanto puder. Vender e vender. Vendidos. Vendentes. Venditivos. Vendedores. Prostitutas.

P.s.: Nos contorcemos pra mostrar o rosto que nos convém (acerca da foto).

terça-feira, 7 de julho de 2009

A rosa-carne carnívora de egofagia


Tudo, no mundo todo, em todo mundo, parece ser só uma questão. Tudo parece se resolver justo ali na primeira atitude reconhecida de um ser humano: nascer. Pronto, não haveria mais necessidade de nenhuma palavra. Alguns transcendem. Só alguns. Não a maioria. Esta se espreme em continuar sendo quem era no momento em que foi dada à luz. È tão simples, ninguém pode escolher nascer. Tão injusto. Como se determinar onde nascer? Porque alguns vão nascer em maternidades muito luxuosas nas grandes cidadas do mundo, outros nascerão a alguns quarteirões na períferia das mesmas. Ainda se verá os que nascerão por aí, em cidades que a gente só ouve falar nos notíciarios em tempo de guerra, fome, seca, desgraça, desgraça, desgraça... Seria mister uma maior sagacidade das almas? Que elas fossem mais espertas em chegar primeiro?


Dizer que Deus é quem escolhe é simples demais e incomoda porque põe fim às indagações. Não quero isso. Quero mesmo é entender, e sei que não vou, que tal de fatalismo é este, que nos fez assim? Não há muitos dados levantados em minha pesquisa, tenho de assumir, mas reconheça que o campo sobre o qual me inclino não é lá algo assim de fácil acesso.


Será, então, que uma alma escolhe aonde vai vir a este mundo? Em quem. Em que circunstâncias. Como. Não há escolha. Despostimo. Ainda nos chamamos de ingratos quando reclamamos do Déspota. Ele nos dá o que comer e dá segurança ao nosso país, logo, um sentimento de divida para com o Carcereiro que nos dá jaula e joga alguma comida cresce bem dentro de nós. Não faz mais do que sua obrigação, uma vez que nunca completaremos a maior idade perante Ele.


Diante do tudo isso o que é imposto de alguma forma e força quando nós nascemos é necessário que enxerguemos um algo de bom que possa nos manter vivos e sorridentes por um período até a hora de morrer. Mas Paloma, deitada já naquela hora da noite, não tinha bons olhos. Seus olhos não eram bons para que pudessem olhar coisa alguma. Mas estavam abertos e vazios como tinham se habituado a estar. Dentre tantas e tantas e mais outro bucado de tantas e tantas mais, teve ela-justo-ela o desfortúnio. Não podia impedir a desafortunança quando ela decide chegar. Outra coisa para a qual não há solução. Chega e pronto. Desgraça! Mas se não fosse ela, outra teria nascido ali. Ah, se fosse sua alma um pouco mais esperta!, estaria em qualquer lugar que fosse onde fosse.


Contudo se ela não fosse, seria alguma outra. Seria sim. E porque seria? N’alguma coisa constava que alguém devia passar por aquilo? Constava quem deveria passar? E uma das outras tantas também se questionaria trancada no quarto como fazia Paloma. O nome seria o mesmo, o corpo também e a flor também seria a mesma. Egofágica. Paloma sentia, dentro de si que mesmo longe dali, distante o quanto fosse, sentiria o peso que era seu. Mesmo que outra das muitas tivesse de encarar o seu fardo, ele pareceria seu, pois tudo aquilo era muito ela pra que fosse outrem... Não havia saída outra senão as lágrimas. Era pra sempre. Irreversível. Doloroso. Cruel e genético. Que diacho de nascença desgraçada!


Uma sentença que se levantava e se proclamava e irrevogável. Sem chances. Nasceu e já é. Setenças de mortos de fome, de milionários, de subdesenvolvidos, de suburbanos, de negros, brancos e pardos. Sentenças que se recebe sem crime, sem erro. Mas castigo. Por que crime? Original? Por que, então, não se batiza bolsa escrotal de pai e ovário de mãe? Ninguém nasce pecador! Ninguém precisa de punição, nem de miséria, nem de doença que vem da mãe, que vai pra filha, que fica trancada, olhando fixo.


"Você não vai comer?" O primo de Paloma entrou no quarto. "Você não come há três dias."


"Não." Paloma olhou para ele e seus olhos assumiram um tom um tanto quanto sonhador. "Eu vou ficar aqui. Bem parada." E um sorriso ia se desenhando em seu rosto. "Se eu não me alimentar, minhas funções vitais vão, gradativamente, parar. E aí, eu morro." Os dentes dela estavam à mostra, sorrindo.


"Ué, por que não polpa tempo e se mata logo de vez?" Ele perguntou enquanto escolhia uma blusa no seu guarda-roupa.


"Original de mais!" Ela debochou. "Eu teria a mesma história da minha mãe. Só que sem marido e filha." Ela fez um muxoxo. "E além do mais eu não tenho coragem." Ela teve uma idéa. Brilhante. "Você faria isso por mim? Digo, tirar minha vida?" Ela realmente o olhou com alguma esperança.


"Não. Para a lei, a vida não é um bem que você pode dispôr. Eu seria preso."


"Mas pra você a cadeia seria boa, não?" Ela imaginava as coisas que podiam acontecer na cadeia com seu primo, e foi como se jogassem gelo antártico no seu coração, ela não podia...


"Por quê?" Ele arregalou os olhos.


"Ah, você sabe o que eles fazem uns com os outros na cadeia... E além de tudo, você pode fingir que tentou me estuprar e eu reagi e daí você me matou: eles costumam ser bem legais com estupradores. Bom, se o estuprador for como você, talvez se sinta bastante feliz nesse contexto."


"Garota, o que esse médico te disse, hein?" O primo franzia as sobrancelhas. "Parece que você deu uma passada no inferno e voltou pra atormentar os outros?"


"Eu fui sim, mas não voltei. Continuo num inferno."


"Você vai morrer?"


"E você não sabe que tudo o que eu quero é morrer?"


"Já disse a você, se mata e pronto. Prometo que encomendo uma coroa bonita!" Ele saiu do quarto. Mas enfiou a cabeço pelo aro da porta: "Caso não queira se suicidar de fome, o jantar ta na mesa."



Paloma trancou a porta. Correu até o espelho levantou a saia e viu o que lhe afligia. Se não é mãe, é mulher. Se não é esposa, é mulher. O que define? O que dá a alguém o direito de assim ser chamado? Mulher. O que é necessário ter? Mesmo as que não tem filhos, as que não tem marido, continuam sendo chamadas de mulher. Mas Paloma se perguntava se também podia ser chamada mulher. O que defendia o sexo feminino, o que fazia o médico gritar "Mulher", ela tinha de maneira mui comprometida e parecia querer negar a sua condição de ser o que era, mutilava-se em penitência, auto-flagelo. O que faz a uma mulher ser mulher. O que faz não fazia mais. Era o quê, depois de tal falimento? Quem lhe escolheu para tal provação? Ah, se pegar pudesse o desgraçado. Ele chegou antes, muito antes.


Ecatologia!, a mãe terra se destruíndo. A fonte de origem humana, onde a vida é gerada se auto destruíndo. Como se Géia iniciasse um processo de auto mutilação. A natura pondo fim à sua capacidade, seu dom, de gerar. Refastelando-se num banquete de egofagia, a rosa de carne carnívora. L. E.. Google it!

Imagem: Senhoras de Avignon de Pablo Picasso

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Abismo










Refletir sobre mim mesmo, acabou por se tornar um abismo que não tem fim e do qual não consigo sair. Cada vez que caio mais, mais tenho a cair e vou caindo. E a treva que vejo no fundo, no fundo, não é agradável. Não é. Eu tenho mania de me ver, me ver mais do que jamais vi. Espelhos não contam toda a verdade, a verdade mora dentro de mim. Lá tem o que eu mais quero ver e o que menos quero também. Eu vejo cada coisa...

quinta-feira, 5 de março de 2009

Dúvidas



Dentre os divinos prazeres que nossa mãe Eva conquistou para nós, infelizmente não se encontrou nenhum pouco de oniscência; e mesmo a nossa tia grega Pandora, com toda a sua curiosidade, não encontrou esta dádiva na caixa que abriu. Por esta falha das nossas sábias ancestrais, nós ainda caímos com frequência naquela que muito nos assola.
Quando ainda estamos na manhã de nossas vidas nossas dúvidas são como aquelas citadas por Cecília Meireles: “Não sei se brinco ou se estudo/ Se saio correndo ou fico tranqüilo...”. Felizes os tempos em que podiamos perguntar aos pais como resolver nossos tórridos dilemas. Não que chegue enfim a idade em que os conselhos dos progenitores se tornem obsoletos. Nunca. Mas algumas vezes podemos descobrir, amargamente, que nossos maiores heróis, em todo o mundo, podem se enganar e sangrar como nós.
Do mesmo jeito que acontece conosco, nossas dúvidas acabam por amadurecer e vão deixando o cerne da de “Tamarindo” ou da de “Maçã Verde”, para questões mais ardidas de se decidir. E sempre o que mais incomoda é a idéia de que uma decisão tenha de ser tomada, e mais preturbador ainda é quando reconhecemos que nós é que devemos assumir a posição de sujeito na tal ação que não queremos tomar, pois temos em mente a lei da física que garante que uma ação gera uma reação. E o que nos apavora é o medo do que fará João Bobo no seu certeiro regresso. Vezes, nossas dúvidas são tão dramáticas que poderiam até mesmo se igualar a do jovem príncipe Hamlet, entre ser e não ser. Viver ou fugir para um além desconhecido. Outras vezes, a grande dúvida é no tangente a qual cor de camiseta usar naquele dia específico.
Porém todas as dúvidas, mesmo a do Hamlet, se tornam menores; pequenas questões infantis quando estão em jogo aqueles olhares. De repente, todas as grandes questões do mundo, as grandes indagações dos filósofos, dos religiosos, da existência humana e mesmo a guerra entre os Deuses e Darwin, entre os deuses e outros deuses caem aos pés da dúvida que envolve aqueles olhares. O que eles queriam dizer naquele instante. E aqueles toques. Será? Seria um equívoco meu? E se ir fosse decisão tomada e ir? E ao mesmo tempo um ir sozinho? Seria exatamente como se perder na rua de casa, dentro do próprio quarto, se perder nas listras do lençol que cobre a própria cama. Duvidar não é um crime, pudera! já é castigo. É mais que castigo: revirar-se numa cama com lençóis desarrumados numa noite de insistente Março, quando alguém esqueceu de pagar a conta da luz. E os abraços. E as palavras. E os inocentes toques de pele. Nunca saber, se um dia talvez, se aqueles olhares foram então do que seria bom que fossem.

domingo, 15 de fevereiro de 2009


O rosto brilhando de olofote e substâncias tóxicas recém eliminadas. Os cabelos já sem todo o glamour do penteado de gel, laquê ou qualquer outra coisa. Os pés terrivelmente castigados tal bruxas em séculos outros. A roupa com cheiro do cigarro das outras pessoas... Mas basta, então, que o homem que tem um “quê” de Deus, de seu trono de pick up, dê as cordenadas pra que se ganhe um trono, cetro e manto; coroa de safira, jeans surrado e a luz de uma estrela.
Ontem eu estava numa festa aqui no Rio de Janeiro, mais precisamente em Copacabana, o nome é ULC. Me divertindo, rindo, cantando, comendo pirulito e suando a camisa na pista de dança... A vida parece muito mais alguma coisa que não sei explicar quando se vive assim. Talvez não seja nem lá grande coisa, uma felicidade efêmera como qualquer uma das quais estamos sujeitos todos os dias. Foi, assim perdido num som outro, que avistei uma menina envolvida com seus amigos, de olhos fechados repetindo a letra de uma música da Katy Pery. Isso não é assim algo tão extraordinário, mas não devem as grandes tempestades serem as únicas as nos roubar a atenção, a garoa também pode molhar. Ela não era a mais linda, usava óculos e tinha cabelos enrolados. Não era loira, não era miss, estava suada. Ela cantava com uma força e suas mãos estavam levantadas como se sua vida dependesse daquele momento. Não fiquei o tempo todo olhando pra ela, fui em busca de outras pessoas que estivessem naquele mesmo estado, sendo assim brilhantes no meio do escuro, sendo mais um naquela multidão, mas mais um, e isso quer dizer alguma coisa. De instante me veio as vozes do Abba fazendo coro na minha cabeça: “Anybody could be that guy. Night is young and the music is high.” E volta e meia eu ia procurando pessoas que estivessem naquele estado de êxtase e não era difícil encontrá-las, haja a vista o tema da festa.
Eu mesmo me permiti o prazer de brincar de “dancing queen”, ao som de Shakira, Amy, Madonna, do próprio Abba com “Mama Mia”, das Spice Girls, enfim de uma galera. Descobri que todo mundo pode ser da realeza, assim, num piscar de olhos, ou melhor num giro de varinha de fada madrinha fazendo freela de DJ. Basta que toque aquela música que te faz gritar (Estoy aqui - Shakira), aquela que te faz pular (Jump – Madonna), aquela que te faz sorrir (All for you – Janet Jackson) ou aquela que você aprendeu a coreografia quando era criança e sabe até hoje: “Ragatanga” (Rouge), “Stop” (Spice Girls). Não precisa muito, é só aquela música e então, você se torna a “dancing queen” (ou king, tanto faz). “Young and sweet only seventeen... Oh, yeah! You can dance. You can jive. Having the time of your life.” E a gente brincando de ser feliz...
Dancing Queen (ABBA)
You can dance, you can jive
having the time of your life
see that girl, watch that scene
dig in the Dancing Queen

Friday night and the lights are low
looking out for the place to go
where they play the right music
getting in the swing
you come to look for a king

Anybody could be that guy
night is young and the music’s high
with a bit of rock music
everything is fine
you’re in the mood for a dance
and when you get the chance

You are the Dancing Queen
young and sweet only seventeen
Dancing Queen
feel the beat from the tambourine, oh yeah
you can dance, you can jive
having the time of your life
see that girl, watch that scene
dig in the Dancing Queen

You’re a teaser, you turn ’em on
leave ’em burning and then you’re gone
looking out for another
anyone will do
you’re in the mood for a dance
and when you get the chance

You are the Dancing Queen
young and sweet only seventeen
Dancing Queen
feel the beat from the tambourine, oh yeah
you can dance, you can jive
having the time of your life
see that girl, watch that scene
dig in the Dancing Queen

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Verãozinho bom - cinema


Eu sei! Eu prometi que nesta postagem eu faria um apanhado de múscias boas pra se dançar no verão, mas por três motivos, sendo o último o mais forte, resolvi não cumprir minha promessa, são eles: artistas são filhos do momento e não se prendem à regras (mesmo as regras criadas pelo próprio artista); só tenho duas leitoras fixas, que são duas amigas que amo (Luiza e Natália - em ordem alfabética, pra não magoar ninguém) e como elas também me amam, não vão vir aqui "pagar" pra mim, espero; e no meu atual momento, música agitada não está com a cotação alta. Quero mesmo é sentar quieto e escrever, ouvir música tranquila e gostosa e assistir a muitos filmes. Adoro filmes. Embora não esteja de férias (infeliz reposição de aulas na UERJ em JANEIRO!), sempre acho um jeito de negligenciar as leituras da bibliografia das disciplinas, um jeito de não estudar para a prova... -não falarei mais senão vou queimar meu filme, caso algum professor, por obra do acaso, venha a ler o meu blogg- e assisto aos meus filmes de ver sorrindo e sorrindo e chorando no final alegre. Assim, acho plenamente justo, realizar uma lista de filmes maravilhosos pra se assistir no verão, afinal esta é a estação inspiradora das coisas boas, das viagens e acontecimentos que sempre se fazem presentes em literatura e cinema gostosos. Sem mais, me esmero em fazer um "Top 40" (30 é muito pouco e corta o coração) Verãozinho Bom - Cinema:
40º - Esqueceram de mim
39º - Os trapalhões na Serra Pelada
38º - Surrender Dorothy
37º - Corra que a polícia vem aí
36º - Para Wong Foo
35º - Um grande garoto
34º - Gatinhas e gatões
33º - Super Xuxa contra o Baixo-Astral
32º - December boys
31º - Doce Lar
30º - Loucademia de polícia
29º - Os batutinhas
28º - Querida, encoli as crianças
27º - A princesa Xuxa e os Trapalhões
26º - Voando alto
25º - 10 coisas que odeio em você
24º - O casamento de Muriel
23º - Bee Movie
22º - As namoradinhas do papai
21º - Os goonies na ilha do tesouro
20º - O casamento do meu melhor amigo
19º - De volta para o futuro
18º - Meninas malvadas
17º - Pequena Miss Sunshine
16º - O Diabo veste Prada
15º - Ela é demais
14º - Louco por você
13º - Legalmente loira
12º - Curtindo a vida adoidado
11º - Nunca fui beijada
10º - O rei leão
09º - A noviça rebelbe
08º - O clube das desquitadas
07º - As patricinhas de Bervelly Hills
06º - Lua de cristal
05º - Matilda
04º - Meu primeiro amor
03º - O diário de Bridget Jones
02º - Uma linda mulher
01º - As caçadoras de aventura

P.s.: Não são lá filmes exatamente de verão, no real sentido, mas são filmes que considero bom pra ver no verão.
P. p. s.: Pra quê eu me justifico se só Luiza e Natália lêem (leem, agora) meu blogg?!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009


Estou estafo. Sentido como se tivesse o mundo nas costa sem sequer carregar o meu quarto. Cansado das idas e vindas da faculdade causadas pela greve que até agora não apresentou resultados positivos. Não os vi passando por lá. Ah e com certeza eu os veria, mesmo em janeiro: estou indo a faculdade para a infeliz reposição de aulas que está arrancando fora os meus cabelos e até fazendo meus olhos ficarem marejados. Vejo as pessoas com suas roupas de praia e eu de tenis e jeans com mochila nas costas e textos pra ler. Ai. Sem falar na prova de Lingüística (que agora nem tem mais trema), que me fez ficar quase depressivo, mesmo entendendo do assunto. É que o calor acaba por derreter a nossa massa encefálica.
Um ensaio de Literatura Inglesa que deixou meus nervos atacados e um de Literatura Portuguesa que ainda vai causar efeito semelhante, posso crer... Ai! Aí é que a gente grita e fala um monte de palavrão e manda o irmão ir pra casa da Maria Chiquinha Cretina pra parar de encher nosso saco! Por isso, decidi me dar um dia na minha mais inteira companhia. Eu somente e eu. Não queria nem Deus por perto. Que ele tomasse conta de mim e qualquer coisa viesse em meu auxílio, mas eu precisava mesmo era de mim, mas do que qualquer coisa. Matei aula! Uahahaha! Sou mau! Aulas e provas e trabalhos e faculdade não vão decidir meu futuro. Não decidem o futuro de ninguém, não sei porque insistem nisso. Posso parecer maluco, mesmo.
Aí, fiquei em casa. Liguei meu computador pra ouvir músicas das quais fiz download gratuito. Que os meus queridos músicos me desculpem, mas não tenho dinheiro para tê-los todos, assim apelo para meios não muito ortodoxos. Musiquinha pra lá e musiquinha pra cá, resolvi organizar uma playlist com músicas que eu considero boas companheiras para dias de verão (sabe, acho que elas tem cheiro de verão) e isso foi bom. Fiz a barba que estava me cansando e espetando, mas eu não conseguia ânimo para acabar com isso. Fiquei feliz. Ouvi um CD da Cássia Eller que não ouvia fazia tempo. E outro de Sandy e Júnior, que me dava saudadinha demais. Eu os amo! Não poderia ser diferente. Estou feliz! Estive comigo e eu sou uma pessoa maravilhosa, uma ótima companhia pra mim mesmo. Não sei bem se o sou para os outros, mas, pra mim, sou e ponto. Escrevi isso tudo pra falar da playlist que organizei e dei o nome de Verãozinho Bom. Agora eu seleciono um “Top 30” da minha playlist (que é enorme), aqui. E se concorda, bem, se não, bem também.
Top 30 Verãozinho Bom!:
30ª – Can’t get enough of your love babe – Barry White
29ª – Girl just wanna have fun – Cindy Lauper
28ª – Ai ai ai – Vanessa da Matta
27ª – Hand in my pocket – Alanis Morissette
26ª – Bem que se quis – Marisa Monte
25ª – Suddenly I see – KT Tunstall
24ª – O bêbado e a equilibrista – Elis Regina
23ª – Disco Lies – Moby
22ª – In my arms – Kylie Minogue
21ª – American boy – Estelle
20ª – Caravan girl – Goldffrap
19ª – Um amor, um lugar – Fernanda Abreu e Paralamas
18ª – Out of reach – Gabrielle
17ª – Le femme chocolat – Olivia Ruiz
16ª – Love song – Sara Bareilles
15ª – Nine in the afternoon – Panic! At the Disco
14ª – Crazy for you – Madonna
13ª – Torn – Natalie Imbruglia
12ª – O homem falou – Maria Rita
11ª – Wonderwall – Oasis
10ª – Kiss me – Sixpence None the Richer
9ª – Shut up and let me go – The ting tings
8ª – Primeiro de Julho – Cássia Éller
7ª – Ilusão – Sandy e Júnior
6ª – That thing you do – The Wonders
5ª – Estoy aqui – Shakira
4ª – Fast car – Tracy Chapman
3ª – Sitting, waiting, wishing – Jack Johnson
2ª – Tears dry on their own – Amy Winehouse
1ª – Put your records on – Corinne Bailey Rae
P.s.: Dobradinha britância no pódio!
P.p.s.: Na próxima postagem eu vou colocar um “Top 30 Verãozinho agitado” com músicas pra dançar no verão.
P.p.p.s.: Estou agindo como se não estivesse vindo de um longo silêncio de quatro meses aqui no blog. Sorry!
Inté,
Gui.