sábado, 19 de junho de 2010

Eu, Narciso meu e minha pena

Uma estância de mim

Escrevo:
- Para compreender a mim e a minha existência: ao passo que escrevo sobre algo, compreendo de dominá-lo, pois passa a ser meu domínio, e quase o esgoto por um instante.

- Para preencher minha alma: não tenho mais religião, não sei por anda Deus e preciso de alguma transcendência na minha vida. 

- Para desenhar possibilidades: imagino como seria minha vida, se certas coisas tivessem acontecido e projeto em personagens minhas ânsias para toda a vida. 

- Para emocionar-me: conforme escrevo ou leio o que escrevi, sou tomado de grande emoção, afinal me vejo frente a um espelho; como se eu estivesse sentado diante de minha própria alma.


Outra estância de mim

Publico: 
- Porque, no mínimo, sou acometido de alguma pretensão: creio que o que fala, fala sempre do alto de um pedestal; crê-se poderoso a ponto de ser merecedor da atenção de outrem. Julga que o que tem a dizer, pode surtir efeitos, salvar, libertar ou destruir seu ouvinte. Falar, tornar-se público, é um fazer de absurda pretensão. 

- Porque, se me julgo digno de ser publicado, creio-me merecedor da aplausos: há artista, ou pretenso artista que seja, que não anseia aplausos e vivas? Pois, por mais recluso que seja um artista, se ele expõe sua obra, já há nisso alguma vaidade. Gosto dos elogios, minha mãe e professoras me criaram assim. Aquele que não espera nenhuma glória e cria arte só para explorar-se, explorar a própria alma, não publicaria nada, engavetaria tudo e nem mostraria a ninguém, nem alimentaria desejo algum de que seus trabalhos fossem apresentados um dia, mesmo que postumamente. 
De fato, quando escrevo, me busco, me acho e logo me perco, mas acho-me em algum instante, ao menos. De fato, quando recebo pareceres elogiosos, me amo. Mas não me tome por inseguro: adoro alguma coroa, mas não amargo uma decapitação. Escrevo para me alimentar, publico para alimentar o meu Narciso. No fim, o Salomão da velhice e da loucura tem alguma razão quando fala sobre vaidade.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mudança

Mudanças se fazem necessárias. Senão, a gente fica estagnado e se levando a sério demais com as certezas tranquilas... Não tomem este testículo como encorajamento para não comentarem no texto abaixo... Este só existe em função da mudança do Layout...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Minha pena é de Edgar

Outras vezes, sonhos de não poderem ser sonhados. Daqueles, que uma vez sonhados, trazem-me a dor durante todo um dia. Amargo o acordar, eu. Ver-me outra vez tal qual estou, tal que dói em mim. Tal qual me vejo, projeção do que sou em algum estágio que nem me conheço. Ele não está do meu lado, mas volta a atazanar-me em sonhos outra vez e não são sonhos voluntários de eu estar acordado. São os sonhos que alma pede ao subconsciente que lha dê. Afinal, alma pode viver os sonhos, ela está no meio do absurdo que se desvenda e se faz e é seu plano, seu palco de ação.

Ela diverte-se na madrugada enquanto durmo, ela sorri, o abraça e o tem mais perto do que nunca antes. Edgar está lá outra vez. A alma clama por ele. Clama por seus olhos castanhos, só dele, clama pelo Edgar mumificado em meus pensamentos. E o subconsciente trafica para a alma em forma de sonho aquele entorpecente, restando-me a ressaca, a rebordosa de um dia seguinte todo de dores de não tê-lo. Ela curte sua gandaia e me deixa a conta do botequim. Sou eu quem sofre dos excessos da minha alma.

Edgar não me deixo. Ele fica em mim, permanece nos meus sonhos, mesmo quando estou dormindo. Absurdo! Minha alma carece do ideal do homem perfeito que desenhei e oportunamente tem o rosto dele e nada além do rosto, uma vez que não é real; e não passa de projeção. Mas, se sonho com ele, meu dia se torna cinza, como gosto do inverno! É a dor inerente a todo prazer. A conta no dia seguinte, a paga.

E ele nem existe, nem é alguém que se possa encontrar pela rua, mas em páginas, em películas, em ondas. Eu queria sentir Edgar, mas isso nunca se daria; por mais que, aqui, ele estivesse, ele não estaria. Há dois dele. O meu e o outro, de quem roubei o rosto e alguns traços do caráter. Só. O amor de minha vida imaginária, da hora de dormir, das horas de ignorar as conversas chatas. De todas as horas em que fechar os olhos e fingir um mundo era a melhor opção. Adoeço-me, e sou agente deste fazer. Adoeço-me. Adoece-me também Edgar, que não deixa de ser eu em socorro e resposta à desilusão de mim.



P.s.: “Pena¹: ... 2. Laminazinhade metal, terminada em ponta, que adaptada a uma caneta, serve para escrever ou desenhar.

Pena²: 1. Castigo, punição, penalidade. 2. Sofrimento, aflição. 3. Compaixão, dó. 4. Mágoa, tristeza. 5. Bras. Punição imposta pelo Estado ao delinquente ou contraventor.” (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)

P.p.s.: Foto: Caneta utilizada pela Princesa Isabel no ato da assinatura da Lei Aurea, que por sua vez libertava os cativos à escravidão.