terça-feira, 23 de março de 2010

Verdade


Há algum tempo ando me questionando o que é a vida: o que viria a ser essa maravilha duvidosa e estranha a qual me sinto tão intimamente ligado e pelo que me sinto incondicionalmente responsável. Absurdamente longe de obter uma resposta, afinal descreio da existência de uma, andei por um caminho e outro até encontrar o que mais pudesse me servir de verdade.

Mas eu nunca aceitei muito essa idéia de que seja possível alimentar uma verdade que não seja comum a nenhum ser humano além de mim mesmo. Como posso carregar no peito uma verdade que ninguém assinou antes? Talvez o mistério esteja em não carregar, no peito, nenhuma verdade, pois quando a verdade ruir – o que sempre acontece – o coração estaria bastante vulnerável sem seu escudo protetor. A verdade, aquela que me consola, que me determina, me diz aonde ir e o que fazer, deve ser mantida à mão e sempre. Assim, ela estará sempre apta a ser descartada no advento de uma nova verdade ou renovado quando eu encontrar um jeito novo de vivê-la.

A verdade para a minha vida deve ser encontrada por nenhuma outra pessoa que não seja eu. Ninguém pode estar autorizado a decidir ou impor uma verdade a mim. A verdade de mim é um fera que só eu posso capturar. Uma verdade domesticada por outrem de maneira nenhuma se adequará a mim. Virá a mim cheia de falhas e de lascas desnecessárias, viria cheia de autoridade e requereria adequação de minha parte; mas a verdade encontrada por mim e para mim me cairá como uma luva. E não estou importando se ela é verdadeira, não! Não quero saber se Platão disse o contrário ou se Wittgenstein disse que não. Pode Buda ter dito outras coisas e até Cristo ter dito ser tudo de procedência maligna. Não é meu dever dar importância extremada ao que disseram antes. Minha verdade deve bastar a mim mesmo, num determinado momento, numa determinada necessidade, contudo, a minha verdade não pode ser manipulada por mim. Ela, apesar de minha, é autônoma. Ela tem seus caminhos: a mim coube achá-la não domá-la. Não sou seu adestrador, antes, seu arqueólogo que a procura, a pesquisa e a descarta em busca de novos achados.

5 comentários:

Vicentini; Luiza. disse...

"Como posso carregar no peito uma verdade que ninguém assinou antes?"

Genial... Como sempre! ;)

Natália Macedo disse...

Ta aí, é exatamente isso! A verdade para a sua vida deve ser encontrada por você e mais ninguém. Mesmo que ela seja modificada, ou descartada, ou substituída, o que importa é que você (e só você) a encontre. É uma busca constante, não há verdades absolutas. A própria vida tem tantas inverdades... Mas a gente acaba achando um modo de vivê-la, o NOSSO modo. E pronto!

=)

a_rosa disse...

Então a sua verdade, suponho, seria, além de autônoma, única? Não sei se isso é totalmente possível, Gui. Você tem uma sede por descobertas, sempre procurando ser o primeiro desbravador de um pensamento, uma ideologia. Bem, não desista, busque a sua verdade, se assim quiser, mas escute: mais vale inumeras verdades em diálogo do que uma solitária, só sua.


Mas talvez, eu esteja errada, admito, no bolso não tneho verdade alguma! beijos

Guilherme de Oliveira César disse...

Aqui não falo de ser o primeiro a desbravar coisas e coisa e tal. Estou falando de encontrar aquele pingo no meio de tudo que pode ser meu. Que se aproxime do que preciso e que seja o mereço. Não duvido de que minah verdade pode ser a certeza de várias verdades coexistentes...

Verdades que dialoguem comigo, com outras verdades e não há mentira nessa história. Há verdades e verdades. Pontos de vista numa prateleira. Compre o seu. Ou não.

Várias Coisas disse...

Acho que é bem isso...
Simples ao mesmo tempo complexo!