
Há algum tempo ando me questionando o que é a vida: o que viria a ser essa maravilha duvidosa e estranha a qual me sinto tão intimamente ligado e pelo que me sinto incondicionalmente responsável. Absurdamente longe de obter uma resposta, afinal descreio da existência de uma, andei por um caminho e outro até encontrar o que mais pudesse me servir de verdade.
Mas eu nunca aceitei muito essa idéia de que seja possível alimentar uma verdade que não seja comum a nenhum ser humano além de mim mesmo. Como posso carregar no peito uma verdade que ninguém assinou antes? Talvez o mistério esteja em não carregar, no peito, nenhuma verdade, pois quando a verdade ruir – o que sempre acontece – o coração estaria bastante vulnerável sem seu escudo protetor. A verdade, aquela que me consola, que me determina, me diz aonde ir e o que fazer, deve ser mantida à mão e sempre. Assim, ela estará sempre apta a ser descartada no advento de uma nova verdade ou renovado quando eu encontrar um jeito novo de vivê-la.
A verdade para a minha vida deve ser encontrada por nenhuma outra pessoa que não seja eu. Ninguém pode estar autorizado a decidir ou impor uma verdade a mim. A verdade de mim é um fera que só eu posso capturar. Uma verdade domesticada por outrem de maneira nenhuma se adequará a mim. Virá a mim cheia de falhas e de lascas desnecessárias, viria cheia de autoridade e requereria adequação de minha parte; mas a verdade encontrada por mim e para mim me cairá como uma luva. E não estou importando se ela é verdadeira, não! Não quero saber se Platão disse o contrário ou se Wittgenstein disse que não. Pode Buda ter dito outras coisas e até Cristo ter dito ser tudo de procedência maligna. Não é meu dever dar importância extremada ao que disseram antes. Minha verdade deve bastar a mim mesmo, num determinado momento, numa determinada necessidade, contudo, a minha verdade não pode ser manipulada por mim. Ela, apesar de minha, é autônoma. Ela tem seus caminhos: a mim coube achá-la não domá-la. Não sou seu adestrador, antes, seu arqueólogo que a procura, a pesquisa e a descarta em busca de novos achados.
5 comentários:
"Como posso carregar no peito uma verdade que ninguém assinou antes?"
Genial... Como sempre! ;)
Ta aí, é exatamente isso! A verdade para a sua vida deve ser encontrada por você e mais ninguém. Mesmo que ela seja modificada, ou descartada, ou substituída, o que importa é que você (e só você) a encontre. É uma busca constante, não há verdades absolutas. A própria vida tem tantas inverdades... Mas a gente acaba achando um modo de vivê-la, o NOSSO modo. E pronto!
=)
Então a sua verdade, suponho, seria, além de autônoma, única? Não sei se isso é totalmente possível, Gui. Você tem uma sede por descobertas, sempre procurando ser o primeiro desbravador de um pensamento, uma ideologia. Bem, não desista, busque a sua verdade, se assim quiser, mas escute: mais vale inumeras verdades em diálogo do que uma solitária, só sua.
Mas talvez, eu esteja errada, admito, no bolso não tneho verdade alguma! beijos
Aqui não falo de ser o primeiro a desbravar coisas e coisa e tal. Estou falando de encontrar aquele pingo no meio de tudo que pode ser meu. Que se aproxime do que preciso e que seja o mereço. Não duvido de que minah verdade pode ser a certeza de várias verdades coexistentes...
Verdades que dialoguem comigo, com outras verdades e não há mentira nessa história. Há verdades e verdades. Pontos de vista numa prateleira. Compre o seu. Ou não.
Acho que é bem isso...
Simples ao mesmo tempo complexo!
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