sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Divorciada na lei de Deus


De novo as coisas de vezes milhares antes. E tornamos a levantar a taça de plástico com a sidra para o teto ainda não acabado de nossa residência. E você fazendo de conta que somos felizes. Todos os anos, me corrói o constrangimento da contagem regressiva na companhia de sua tia e de seus primos que são tudo o que temos de família. E você insistindo em ressaltar a nossa felicidade contada no número de carnês que adquirirmos com os últimos crediários do natal.  Você ostenta nossa nova TV enquanto eu combino os sofás de maneira que escondam as imperfeições do mofado nas paredes. Você faz questão de dizer que na sua casa todos comem a vontade enquanto sou eu quem vai ao mercado fazer milagre com meus R$250,00 de limite no cartão de crédito. Você se orgulha da sua árvore de natal, a montou enquanto eu selecionei cuidadosamente o lugar de sua disposição: em cima do piso que quebrou quando por último, depois de ter me jogado no chão, você lançou contra mim um casco de cerveja. Eu não suportaria ouvir você com uma fabulosa história sobre ter deixado um martelo cair. Por isso escondi. Para que não tivesse de ouvir sua tia perguntando sobre. Você dando sidra aos seus primos afinal estão ficando homens e precisam começar a seguir o seu exemplo como figura masculina mais próxima que eles têm. Eles me olham sorrateiros. Estão cansados de ser homens. Eu os fiz assim. Eu os ensinei a ser homens, a tocar numa mulher, a meter nela a encher a cama do marido dela de porra de moleques tarados e a rirem-se do galo de rinha metido a esperto. Eu lhes ensinei como calibrar uma arma e os ensinei a como dar fim a um merda suburbano e ordinário como você. Fui eu. Enquanto você brincava de polir o seu ego, brincava de ser macho sobre mim, de me fazer de seu pano de pia. E me enfiava a porrada e me arrancava tufos de cabelo e me dava roxos e verdes por todo o corpo. Enquanto isso, eu dei muito a minha boceta pros seus primos menores. Dei e você tão macho, tão dono de mim nem se deu conta de que veio me lamber suja deles ainda. Foi gostoso lamber porra de moleques tarados? Agora, o fim. Invertemos as posições das coisas: você chora as suas dores de já enxergar o Cão do outro lado, todo já receptivo de braços mais abertos que os do outro. Enquanto eu escancaro sorrisos doentios lutando entre a ansiedade de te ver morrer logo e o deleite de ver isso assim aos pingos de ora sim, ora não. Não olhe para cima. Você não tem nenhuma parte lá.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Me pergunto


Por que está teu rosto escondido
dentro do teu próprio braço?
E sussurras mui baixo, inaudível,
ao amante de um desesperado.
Como quem temesse ser surpreendido
nas redes de um amor avergonhado.
Como quem mesmo responde
Às questões que há pouco houvera sussurrado.