terça-feira, 6 de abril de 2010

"At Waterloo [Dorothy] did surrender"


Sonhei que estava sonhando um sonho bom. Comigo, Feiticeira, armário, leão, homem de lata, espantalho, Totó. Eu: Dorothy, Lúcia, Alice. Eu era Godot e não vinha; eu era o mágico e ludibriava os outros com minhas histórias, com meu jeito de falar. Eu era Aslam e dizia tudo, e enchia o peito, o enchia de mim. Sei que era tudo sonho, que tudo era Literatura; eu sou Literatura. Tudo o que sou é o que escrevi. Sou pouco. Também sou o que li; também sou o que escreverei. Sou Milena, Lucas; sou Lean, sou todos eles e acho que serei Alana.
Eu sou Alice correndo atrás do coelho; sou Alice encarando a Rainha de Copas; sou Alice, uma nova vez, afogando-me em minhas lágrimas. Me perco no labirinto, no do Fauno, do Minotauro, no do Torneio Tribruxo. Me perco no tabuleiro de Xadrez de Bruxo, no tabuleiro de Jumanji. O negócio é me perder: nas letras e palavras, seus fonemas, sua música. Me perder também entre as porradas nas minhas teclas. Me perco nos olhares dos Lucas’s, no sorriso de Milena, nos suicídios de Alana. Alana sempre se mata. A cada novo conto ela acha um jeito de dar cabo de si. Ala é minha vontade. É a coragem que busco na Estrada de Tijolos Amarelos. A saída da loucura esteve sempre nos próprios pés. E posso sair do abismo no qual me meti. Eu tenho sapatos.
Quando percebi que eu queria ir à Nárnia, que eu, de fato, queria estar lá; quando me entristeci por entender que Nárnia não existe, me dei conta, como nunca, de que sou Literatura, e por isso nem existo. Sou apenas a sombra acordada e triste. Uma sombra frustrada, desenganada; nunca desencantada. Não há Nárnia, não há Hogwarts. Nada de Oz ou País das Maravilhas. Mas há Godot – nem que perdido em algum lugar, impedido de chegar. Há o mágico; Aslam persiste e Dumbledore me ama.
Se sonhei acordei desgostoso. Por que me tiraste o sonho? Por que despertaste-me? Justo agora que Herminone Granger e eu lutávamos contra o mal? Justo agora que Cristo me tomou em seu colo e me levou a uma procissão de travestires? Por que me roubaste  primo do Porco? Deixasse-me dormir. Sonhar, escapar da minha realidade fria e sem ação, emoção; sem cadeiras de prata, sapatos de rubi, sem desaniversário, sem Nimbus 2000.

4 comentários:

Regis Rocha disse...

Eu queria mesmo é saber nadar - literatura pura.

a_rosa disse...

eu também sou Lucas! rs

Sem realidade nao há sonho. Pensêmos assim: vamos usar a realdiade, tirar dela o que há de melhor e criar nosso próprio mundo, sonhar o que nos der na telha. Alguém um dia me disse que só podemos escever (ou sonhar) sobre aquilo que conhecemos.


linda, Dorothy! Don't surrender!!!

Anônimo disse...

dá pra me contar pq vc me diz pra vir comentar aqui e não vai no meu e nem me tem nos seus blogs amigos???
buááááá...

não concordo que, se vc é literatura, vc não existe...
mas adoraria tb viver num mundo de desaniversários qnd não é meu aniversário e d poder passear no armário de vez em qnd... =)

Vicentini; Luiza. disse...

Eu simplesmente adorei o texto!
Adorei adorei adorei!!!
=)
parabéns, meu queridíssimo amigo!
Ah, o tabuleiro de Jumanji!