Uma estância de mim
Escrevo:
- Para compreender a mim e a minha existência: ao passo que escrevo sobre algo, compreendo de dominá-lo, pois passa a ser meu domínio, e quase o esgoto por um instante.
- Para preencher minha alma: não tenho mais religião, não sei por anda Deus e preciso de alguma transcendência na minha vida.
- Para desenhar possibilidades: imagino como seria minha vida, se certas coisas tivessem acontecido e projeto em personagens minhas ânsias para toda a vida.
- Para emocionar-me: conforme escrevo ou leio o que escrevi, sou tomado de grande emoção, afinal me vejo frente a um espelho; como se eu estivesse sentado diante de minha própria alma.
Outra estância de mim
Publico:
- Porque, no mínimo, sou acometido de alguma pretensão: creio que o que fala, fala sempre do alto de um pedestal; crê-se poderoso a ponto de ser merecedor da atenção de outrem. Julga que o que tem a dizer, pode surtir efeitos, salvar, libertar ou destruir seu ouvinte. Falar, tornar-se público, é um fazer de absurda pretensão.
- Porque, se me julgo digno de ser publicado, creio-me merecedor da aplausos: há artista, ou pretenso artista que seja, que não anseia aplausos e vivas? Pois, por mais recluso que seja um artista, se ele expõe sua obra, já há nisso alguma vaidade. Gosto dos elogios, minha mãe e professoras me criaram assim. Aquele que não espera nenhuma glória e cria arte só para explorar-se, explorar a própria alma, não publicaria nada, engavetaria tudo e nem mostraria a ninguém, nem alimentaria desejo algum de que seus trabalhos fossem apresentados um dia, mesmo que postumamente.
De fato, quando escrevo, me busco, me acho e logo me perco, mas acho-me em algum instante, ao menos. De fato, quando recebo pareceres elogiosos, me amo. Mas não me tome por inseguro: adoro alguma coroa, mas não amargo uma decapitação. Escrevo para me alimentar, publico para alimentar o meu Narciso. No fim, o Salomão da velhice e da loucura tem alguma razão quando fala sobre vaidade.
3 comentários:
Me acho em muitos dos seus porques. E não seria de se estranhar, afinal de contas, escrevemos.
Não importa gênero, estilo, assuntos. Os porques sempre irão se esbarrar.
Almejamos coroas, nos desvelamos, escrever é um jogo arriscado, prazeroso como todos os outros. :D
não entendi a história do Salomão, você com esse background de crente... rsrs
menine, veja isso ó http://www.oh-reggie.blogspot.com/
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