terça-feira, 8 de junho de 2010

Minha pena é de Edgar

Outras vezes, sonhos de não poderem ser sonhados. Daqueles, que uma vez sonhados, trazem-me a dor durante todo um dia. Amargo o acordar, eu. Ver-me outra vez tal qual estou, tal que dói em mim. Tal qual me vejo, projeção do que sou em algum estágio que nem me conheço. Ele não está do meu lado, mas volta a atazanar-me em sonhos outra vez e não são sonhos voluntários de eu estar acordado. São os sonhos que alma pede ao subconsciente que lha dê. Afinal, alma pode viver os sonhos, ela está no meio do absurdo que se desvenda e se faz e é seu plano, seu palco de ação.

Ela diverte-se na madrugada enquanto durmo, ela sorri, o abraça e o tem mais perto do que nunca antes. Edgar está lá outra vez. A alma clama por ele. Clama por seus olhos castanhos, só dele, clama pelo Edgar mumificado em meus pensamentos. E o subconsciente trafica para a alma em forma de sonho aquele entorpecente, restando-me a ressaca, a rebordosa de um dia seguinte todo de dores de não tê-lo. Ela curte sua gandaia e me deixa a conta do botequim. Sou eu quem sofre dos excessos da minha alma.

Edgar não me deixo. Ele fica em mim, permanece nos meus sonhos, mesmo quando estou dormindo. Absurdo! Minha alma carece do ideal do homem perfeito que desenhei e oportunamente tem o rosto dele e nada além do rosto, uma vez que não é real; e não passa de projeção. Mas, se sonho com ele, meu dia se torna cinza, como gosto do inverno! É a dor inerente a todo prazer. A conta no dia seguinte, a paga.

E ele nem existe, nem é alguém que se possa encontrar pela rua, mas em páginas, em películas, em ondas. Eu queria sentir Edgar, mas isso nunca se daria; por mais que, aqui, ele estivesse, ele não estaria. Há dois dele. O meu e o outro, de quem roubei o rosto e alguns traços do caráter. Só. O amor de minha vida imaginária, da hora de dormir, das horas de ignorar as conversas chatas. De todas as horas em que fechar os olhos e fingir um mundo era a melhor opção. Adoeço-me, e sou agente deste fazer. Adoeço-me. Adoece-me também Edgar, que não deixa de ser eu em socorro e resposta à desilusão de mim.



P.s.: “Pena¹: ... 2. Laminazinhade metal, terminada em ponta, que adaptada a uma caneta, serve para escrever ou desenhar.

Pena²: 1. Castigo, punição, penalidade. 2. Sofrimento, aflição. 3. Compaixão, dó. 4. Mágoa, tristeza. 5. Bras. Punição imposta pelo Estado ao delinquente ou contraventor.” (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)

P.p.s.: Foto: Caneta utilizada pela Princesa Isabel no ato da assinatura da Lei Aurea, que por sua vez libertava os cativos à escravidão.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Ela curte sua gandaia e me deixa a conta do botequim. Sou eu quem sofre dos excessos da minha alma"
AMEI!

E, fala sério, todo mundo já teve ou tem seu Edgar, né!?

Que delícia de texto! FODA!