
As coisas passam. Elas são passageiras. Os instantes mudam e voltam a refazerem-se. Eles são dèjá vu. Nos tornamos outro nós de nós de novo a recomeçar depois do tão fundamental que se acabou de esgotar e tornar tédio. Não me beije mais pela manhã. De manhã se quer estarei na sua cama. Saio feito quem se esgueira por um chão de navalhas e não se machuca.
O momento me importa. Quero cada um deles. Inclusive este. Quero abrir a janela e me permitir acreditar que tudo, o ar, o sol, as buzinas e a banda existem pra mim e depois, quando tornar a fechá-las retornar ao de ordinário, onde me resigno de novo. Quieto; reprogramando outra vez um outro ato de abrir-me as janelas. E debruçar-me por sobre elas, e brincar que sou rei até ser deposto outra vez.
Morro de gastura de ter janelas abertas durante o tempo todo. Não posso conceber: mosquitos, chuvas, ladrões e tédio. Eu preciso me acostumar com a janela. O seu material, do que ela é feita, preciso me cansar de suas cortinas, dos possíveis adesivos colados pelo irmão mais novo. Quero me cansar da cara das janelas, só assim será extraordinário abri-las.
Percebo que enjôo do que conquisto. Facilmente. Basta que conquistado esteja. Percebo que não sou o fraco que costumava fantasiar ser. Ele havia me ensinado que ser fraco era melhor e que eu seria exaltado por isso. Dispenso a estrela na testa. Até de conquistá-las eu já cansei. Colecionei muitas. Quero a força, o vermelho, amarelo e laranja que passam por meus olhos tão brevemente que nem têm tempo de me deixar irritado. Quero muito agora, agora queria e não mais. Se a banda passasse todos os dias, a rosa triste permaneceria fechada; a moça feia, suas mágoas, choraria; o faroleiro, vantagem contaria e só. O carnaval nos assalta! Libertação extraordinária. É o mesmo. A mesma coisa. Mas temos um ano até que ele volte. E já o queremos de novo, como se nunca antes o tivéssemos tido.
Agora, por favor, pare de me beijar de manhã.